TENDA ÁFRICANA

Nos primeiros dias que eu estive internada, as pessoas ficavam em macas aguardando um leito, eu mesma fiquei, e digo a vocês foi uma sensação horrível, não havia leitos suficiente para todos, o hospital estava lotado em função da epidemia da dengue, muitos morreram não por falta de atendimentos por não resistirem,  e eu nunca vi tamanha loucura dentro da emergência, consultas por madrugadas afora e adultos, idosos e crianças dando entrada na tenda,

era a maneira que eu me referia naquele lugar, uma total desorganização,por falta de espaço para todos,  até que chegou uma equipe de pessoas para trabalharem e começou a colocar ordens em todos os sentidos a começar por colocar os nossos nomes no leito para que fossemos identificados, a  equipe colocou ordem no pedaço. Naquele  lugar a minha sensação era de esta num acampamento na África algum filme que eu tenha visto que me remeteu a este lugar, ali também fiz amigos que infelizmente perderam seus entes queridos, descansaram do sofrimento. Por isso volto a dizer Obrigado Universo por continuar ainda por aqui, eu acredito que tudo tem um por que e a sua hora. Foram muitas lágrimas derramadas sem entender o que estava acontecendo e por que estava acontecendo, via o sofrimento da minha filha, junto ao medo de me perder, o quanto ela ficou sensível, que por qualquer coisa ficava os olhos tristes, eu percebia tudo, e pedia a Deus que me poupasse desta descarga queria continuar por aqui junto de todos, muitas vezes sentia como se não estivesse aqui, foi como uma amnésia, olhava para aquele local e para aquelas pessoas e não reconhecia, foram uns dois dias assim eu só lembrava da minha filha e nada mais, era como se eu não tivesse casa e nem responsabilidade com nada, estava pelo mundo, uma sensação indescritível, mais ao olhar o reflexo do sol na parede voltei a realidade do meu mundo e estava doente dentro de um hospital, onde permaneci por longos 23 dias, para mim foi uma eternidade, que espero a Deus não passar tão cedo! O que eu sentia é que o tempo e as horas naquele lugar não passava nunca!